quarta-feira, 28 de maio de 2014

A Era Vitoriana

A Rainha Vitória
          Também conhecido como Pax Britannica, o período de reinado da Rainha Vitória foi de grande prosperidade e paz para o Império Britânico. Os lucros adquiridos com a expansão do Império, o rápido crescimento industrial, a poderosa marinha mercante e o Estado solidamente estruturado garantiam o poderio britânico, que desde a derrota de Napoleão Bonaparte, em 1815, não encontrava nenhum rival capaz de ameaçar sua estabilidade e liderança internacional.
          A Lei da Grande Reforma de 1832 firmava a hegemonia burguesa diante da tradição de privilégios dos grandes proprietários. Foram adotadas medidas que eliminaram as restrições comerciais e agrícolas, a exemplo da abolição da Lei dos Cereais (1846), que, com suas elevadas taxas de importações, dava imensas vantagens  aos proprietários de terras ingleses. O livre comércio teve grande expansão. No auge da industrialização e da política colonial, a Inglaterra transformou-se em uma enorme potência mundial.
          Apesar da perseguição aos artistas que se opunham ao regime vitoriano, o período foi marcado por um grande desenvolvimento artístico e cultural na arquitetura, literatura e teatro. A arquitetura foi marcada pelo confronto entre os conceitos góticos e clássicos, com o reflorescimento do gótico sob a forma do neo-gótico; na literatura, destacaram-se os romances de George Eliot, Charles Dickens, Sir Arthur Conan Doyle, as Irmãs Brontë, Oscar Wilde, Lewis Carroll, entre outros; no teatro, o destaque foram as montagens dos trabalhos de Mary Shelley, James Joyce, George Bernand Shaw e Oscar Wilde.

Rua em Newcastle em 1888

Os Males do Fim do Século

          Apesar da fama de paz e da rigorosa moral vitoriana, eram muitas as práticas não tão morais, como a cultura do ópio. Tal prática pode parecer estranha aos olhos de hoje, porém, deve-se levar em conta que o ópio era distribuído livremente na corte e até a própria rainha Vitória o consumia misturado com cocaína na forma de pastilhas, uma vez que ambas as drogas eram receitadas medicinalmente. O ópio era consumido como uma “droga social”, tal como a nicotina nos tempos modernos.
          Os britânicos não só viam no ópio benefícios medicinais, como também benefícios econômicos, uma vez que sua exportação rendia boas quantias ao império. Em 1830, a situação crítica da sociedade chinesa fez com que fosse ordenado um combate ao ópio e, em 1839, o representante chinês Lin Hse Tsu enviou uma carta à rainha Vitória a pedir-lhe para não autorizar a comercialização de substâncias tóxicas.A rainha rejeitou o pedido, o que levou a uma guerra (1839-1842) que terminou com a rendição da China e à entrega da ilha de Hong Kong ao Reino Unido e a subsequente abertura das importações. A China não aceitou de bom grado os tratados decorrentes do fim da Guerra do Ópio, o que levou a um novo conflito entre 1856 e 1869.

A Morte

          A morte era presente na sociedade vitoriana. A expectativa de vida das classes mais altas em 1830 era de 44 anos, a dos homens de negócios era de 25 anos e a das classes trabalhadoras não ultrapassava os 22 anos de idade. Além disso, 57% das crianças das classes trabalhadoras morriam antes de completarem 5 anos. A maioria das pessoas morria em casa, gerando uma maior proximidade com a morte que criou vários rituais em seu redor. Quando alguém estava às portas da morte, era costume chamar toda a família, que se reunia à volta da cama e aguardava com expetativa as últimas palavras do moribundo. Devido à elevada mortalidade infantil e ao fato de esta ser, em muitos casos, uma das poucas ocasiões em que a família estava toda reunida, começou a surgir o costume de tirar fotografias com os falecidos. No caso das crianças, estas fotografias eram muitas vezes a única recordação que a família tinha dos seus filhos e era costume colocá-las em locais de destaque da casa.
          Havia ainda regras bastante restritas no que diz respeito ao luto. As viúvas tinham de usar vestimentas de luto durante dois anos e meio após a morte dos maridos e não podiam socializar durante esse período. A própria rainha Vitória manteve um luto de 40 anos quando o seu marido, o príncipe Alberto, faleceu.
          Esta ligação à morte estendia-se ainda ao entretenimento. Os espectáculos de espiritismo atraiam 
multidões e as sessões espíritas com a presença de médiuns estavam em voga, principalmente nas classes mais altas. A popularidade do espiritismo nesta época é atribuída ao declínio na crença  religiosa ao mesmo tempo que o prestígio da ciência aumentava. 
          A proximidade com a morte, drogas, prostituição, declínio ou mesmo negação religiosa, somado com o clima tempestuoso e sombrio tipicamente inglês teve grande impacto no modo de pensar do homem, o que refletiu fortemente na Arte. O medo da morte levou quase que organicamente a contos de terror ou desespero ambientados em uma Londres decrépita e assombrada, povoada por espíritos e construções tristes. Tais condições podem ser encontradas nas obras dos escritores da época. Drácula, o monstro de Frankenstein, Dr. Jekill, Dorian Gray, Oliver Twist e Sherlock Holmes são todos contemporâneos, e as mentes por trás destes personagens com certeza foram influenciadas pela convivência tão próxima à morte e aos males do homem.

Fleet Street - comparação: Século XIX /Dias atuais
          A Era Vitoriana é famosa pela paz e prosperidade que trouxe ao Império Britânico, tal fama pode nos levar a olhar com carinho para o passado e pensar que o mundo era um lugar melhor mas, olhando um pouco mais fundo, podemos perceber que nem tudo era tão bom. O Império ascendeu, surgiram ali algumas das mais importantes invenções da humanidade, temos clássicos excepcionais na literatura e dramaturgia que surgiram sob o cetro da Rainha Vitória, mas temos também má qualidade de vida, medo e morte rodeando tudo isso. No entanto, o homem é fruto de sua época, não fosse todo este contexto assustador talvez não tivéssemos nem metade do que este período nos proporcionou.



Interessado? Não é difícil encontrar obras ambientadas no Período Vitoriano:

Livros:
Drácula - Bram Stoker
O Médico e o Monstro - R. L. Stevenson
Frankenstein - Mary Shelley
A Volta do Parafuso - Henry James
O Morro dos Ventos Uivantes - Emily Brontë
Toda a obra referente a Sherlock Holmes - Sir Arthur Conan Doyle

Filmes:
Sweeney Todd (2007)
A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça (1999)
Drácula - de Bram Stoker (1992)
Sherlock Holmes (2009)
A mulher de preto (2012)
Orgulho e Preconceito (Várias versões)

A Era Vitoriana foi um período muito rico e interessante em vários aspectos, portanto, fique de olho para mais publicações! Em breve, seguiremos um pouco a linha histórica!

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Até breve!