Hans Zimmer. |
Quem me conhece um pouco sabe
que eu sou apaixonado pelas composições para cinema. Grande parte da emoção que
o cinema nos proporciona se deve muito às composições realizadas para
acompanhar a película. Portanto as músicas geralmente são carregadas de emoção
e sentimento, que é, em minha opinião, o que a música deve transmitir. Hoje,
analisando meu passado, percebo que esta paixão vem desde muito novo, desde
quando eu era uma criança e depois que assistia filmes ficava cantarolando as
músicas enquanto brincava de alguma coisa. Temas como os de “Indiana Jones” e
“Jurassic Park” sempre eram recorrentes. Lembro-me inclusive de uma vez ter
feito uma gambiarra nível épico, junto às minhas primas – com quem eu mais me
aproximo em idade na família e eram, conseqüentemente, minhas companheiras em
meus desbravamentos por florestas inóspitas ou espionagens em futuros
distópicos ou mesmo invasões alienígenas –, para conseguir gravar a música dos
créditos de “Jurassic Park” num desses gravadores de criança dos anos 90 que
nem existem mais.
Mas uma das músicas que eu
sempre gostei, foi a trilha de “O Rei Leão”.
Este filme maravilhoso é o meu favorito da Disney, com toda certeza. E a
música de “O Rei Leão” é uma das coisas mais bonitas que eu já ouvi, e que me
capturou mesmo antes de eu saber que existiam pessoas por trás das composições.
As principais canções cantadas
neste filme foram compostas por Sir Elton John, como “The Circle of Life” e
“Can you feel the Love tonight?” – dizem que ele ficou um tanto ofendido quando
viu esta última interpretada por um javali e seu amiguinho suricate! – que são
muito bonitas de fato, mas não é delas que eu estou falando.
O que me pegou foi aquela
música que tocava logo enquanto a chuva cai nas Terras do Reino, no rio perto
da árvore de Rafiki após o nascimento de Simba, ou quando Simba está
contemplando as estrelas junto a seus amigos, ou quando tem um encontro com o
espírito de Mufasa. Foram estas músicas – que mais tarde vim a saber que se
chamam temas incidentais – que ficaram na minha mente.
Estas
músicas permaneceram em uma gavetinha especial da minha mente por muitos anos,
até que mais tarde, já mais velho e com um gosto musical mais definido, assisti
a um filme, também da Disney, chamado “Piratas do Caribe – A maldição do Pérola
Negra”.
A trilha sonora deste filme fez
um sucesso gigantesco comparado com os padrões para este tipo de música. Há de
se convir que não é um estilo tão popular assim, mas atraiu a atenção mesmo de
quem não ligava muito para este tipo de coisa. Eu sempre gostei de músicas
épicas com um quê de aventura e, pesquisando, descobri que a trilha sonora de
“Piratas do Caribe” foi composta por Klaus Badelt, em parceria com um certo
alemão chamado Hans Zimmer, que manteve o seu nome afastado pois trabalhava em
outro projeto ao qual queria se dedicar, somente ajudando o Sr. Badelt com a
composição de alguns temas principais, como “He’s a pirate” – que, a meu ver
esta vou uma excelente escolha; explicações abaixo.
Ok. A discografia de Klaus Badelt
não me chamou tanto a atenção, mas a de Zimmer, por outro lado, me deixou mega
curioso, pois foi aí que descobri que ele foi responsável pelos temas de “O Rei
Leão”.
"This Land" - Trilha que rendeu o Oscar a Hans Zimmer.
Nascido em Frankfurt, Alemanha,
à 12 de Setembro de 1957, Zimmer iniciou sua carreira no mundo da música
tocando teclados e sintetizadores, e já declarou em entrevistas que seu sonho
era ser guitarrista de uma banda de rock.
Tendo um estilo muito
característico que muitos consideram minimalista por valorizar pequenos sons ou
conjuntos de notas, este compositor alemão dialoga muito com a fotografia e o
sentimento do filme, sendo que suas composições muitas vezes são a alma da
historia sendo contada, levando-a a um novo patamar. É possível notar a
assinatura de Hans Zimmer em várias composições, principalmente as dos anos
2000, como Piratas do Caribe, O Último Samurai, Rei Artur e Pearl Harbor,
existem ali passagens que são muito peculiares ao compositor, mas se analisarmos sua discografia percebemos que Hans Zimmer é
um compositor muito versátil, e que essas passagens que encontramos são
semelhantes porque os filmes têm aspectos semelhantes entre si.
"War" tem um fim grandioso que mistura temas já explorados no filme. A trilha sem dúvida supera o filme.
Zimmer muitas vezes se utiliza
de instrumentos incomuns aos utilizados para as composições cinematográficas;
enquanto a maioria dos compositores se utiliza de instrumentos clássicos de
orquestra, este alemão incorpora instrumentos mais populares como guitarras,
bateria e sintetizadores em suas músicas, fato que com certeza vem do desejo do
jovem Hans de montar uma banda de rock, e que dá ao seu trabalho uma variedade
sem igual. A guitarra está presente na trilha de Thelma & Louise e de Dias
de Trovão, filmes do início de sua carreira, e também em um de seus trabalhos
mais recentes, A Origem, que conta com a participação do gutarrista do The
Smiths, Johnny Marr. A guitarra e o rock n’ roll estão tão presentes nas
paixões do compositor que é possível vê-lo tocar guitarra em uma premiere de
Piratas do Caribe – No fim do Mundo, trocando o instrumento pelo piano no
decorrer da apresentação.
Premiere de Piratas do Caribe - No Fim do Mundo
Uma das características mais
marcantes de Zimmer é essa capacidade de moldar suas composições aos filmes, e
não o contrário, como acontece com alguns compositores; tal característica dá
alma e coração ao filme, e te envolvem de maneira que você não controla mais
suas emoções. Zimmer é muito bom em criar paisagens sonoras, conceito que na
música significa passar imagens ao cérebro através do estímulo pelo som. É
impossível não ouvir o tema de Gladiador e não imaginar a glória e esplendor da
Roma Antiga ou as composições de O Código DaVinci sem pensar em documentários
de história ou grandes obras de arte. A trilha de O Último Samurai é uma das
coisas mais lindas que eu já ouvi na vida, e transmite uma paz mesclada em dor
e sofrimento, que é exatamente o clima do filme, que trata da busca do homem
pela paz, mesmo em tempos conturbados.
"Small measure of peace" - Música final de O Último Samurai. Zimmer aproveita pequenos sons e temas, explorando-os e mesclando-os ao longo do filme para evocar uma mescla de emoções nas cenas.
"Chevaliers de Sangreal" - A música se encaixa perfeitamente para quando paramos para pensar em história.
Outro destaque vai para os
temas de aventura como em Piratas do Caribe, Rei Arthur ou Batman, que são
sempre épicos e empolgantes, como temas de aventura devem ser.
Musicalmente falando,
geralmente Zimmer trabalha suas músicas em uma mesma escala, dando-lhe a
liberdade de criar temas isolados e depois mesclá-los ao longo das composições,
o que é algo sublime e dá uma grandiosidade e profundidade ímpar à suas obras.
Premiere de A Origem, com Johnny Marr.
Este alemão que começou
querendo ser guitarrista e terminou como um dos maiores compositores da
atualidade, ganhando um Oscar e um Globo de Ouro por seu trabalho em O Rei Leão, pode ser colocado ao lado de compositores consagrados como John
Williams, possui características e identidade própria e uma versatilidade
incomum ao meio. Para quem gosta de rock, Zimmer é uma das principais
influências de Tuomas Holopainen, tecladista e principal compositor da banda
finlandesa Nightwish.
Zimmer trabalhou na trilha do seriado The Pacific, que trata da Segunda Guerra Mundial. A abertura dramática e épica retrata muito bem o sentimento da série.
Hans Zimmer é, sem dúvida, um
dos maiores compositores da nossa época, e seu trabalho é genial. Escutem mais
o cinema, pois ele tem muito a lhe contar além do que os seus olhos vêem.
O currículo de Zimmer é extenso, este vídeo mostra alguns de seus principais trabalhos.